Depoimentos



Desde a década de 70, a produção de Carlos Asp promove aproximações alternativas para as relações convencionais entre forma e suporte. Quase vinte anos depois de sua última mostra em São Paulo, a disposição pacificada das peças atuais pode levar a pensar em uma mudança de estratégia num percurso no qual a adesão ao precário e ao processual chegou a representar dificuldades palpáveis em termos de registro e amostragem da obra. Mas, o artista afirma que sãodesenhos que queriam ser pinturas”. O suporte utilizado, por outro lado, é obtido por apropriação e recondicionamento de determinados componentes que poderiam parecer ainda mais ligados ao lugar de onde foram subtraídos do que àquele em que estão emoldurados. Essa rede plana - caixas de medicamentos desmontadas, embalagens de papelão, bulas - projeta-se como uma operação cifrada que acaba por perturbar a coesão desses quadros. As retículas padronizadas na superfície se adequaram às propriedades idiossincráticas de um campo distante da tela, exposto ao reverso ou do modo como possibilita ser o espaço para uma ação que é padronizada na medida para que não se desvincule da atividade manual da qual resulta.
Dessa maneira, a vocação declarada dos trabalhos retoma um sentido ambíguo, que afirmar que esses Planos são desenhos ou relacioná-los à pintura é dissolver essas duas categorias e requalificar a experiência plástica diante de uma condição dúbia na qual as formas não gozam de autonomia porque continuam sempre retomando um processo que é reiterado como mais significativo do que seus resultados parciais.

Rafael Vogt Maia Rosa